Se soubesse o que não sabíamos.

Sabe aquela vez que eu gritei para que você fosse embora e nunca mais voltasse? Eu nunca quis tanto que você estivesse ali ao meu lado. Eu nunca quis tanto que você me pegasse pelos ombros, me desse um beijo demorado e falasse que não ia a lugar algum porque aquele, justo aquele, era o seu lugar e que você iria defendê-lo com unhas e dentes e beijos e abraços e gritos também, se fosse necessário.

Nunca te pedi, de fato, para que me compreendesse, até porque eu sou uma incógnita até sob minha própria visão. Mas esperava que você me enxergasse. Me enxergasse por inteira, completamente, despida de conceitos e marcas adquiridas com os tombos que a vida tenha me dado, e que aqui, por baixo desse cabelo enrolado em coque e calça moletom, existe alguém com sede em ser descoberta e explorada em todas as emoções possíveis. Que enxergasse que minhas emoções e minhas implicâncias precisavam ser domadas para que eu nunca fugisse, nem na primeira nem na última oportunidade.

Mas não. Você não me enxergou. E além de não ter me enxergado, você me deixou naquela sala vazia gritando comigo mesma e com todo esse turbilhão de sentimentos (entre amores e ódios) que percorriam minhas veias, vendo suas costas partirem.

Não sei se eu desisti ao permitir que você passasse por aquela porta, se você desistiu quando percebeu que aquele desafio era maior do que suas próprias forças, ou se nós dois desistimos juntos quando permitimos voltar à nossa individualidade costumeira que nos afasta, mas, curiosamente, nos une em um laço que insistimos em atar e desatar um milhão de vezes.

Sabe aquela vez que te disse ao pé do ouvido que aquilo tudo era melhor do que merecíamos? Talvez eu estivesse certa. Talvez esse silêncio saudoso de nossas risadas seja o que realmente era do nosso direito desde o começo, mesmo que insistíssemos em ocupar nossos ouvidos com nosso próprio conto de fadas. Talvez esse tal conto, nosso conto, seja o que merecemos. Escrito fora da linha, com letras tortas e erros ortográficos. Sem métrica. Sem regras. Sem pontuações.

E nessa reticências, talvez você finalmente me escute e volte para segurar meus ombros e passar as mãos entre o emaranhado dos meus fios de cabelo, e venha, finalmente, defender o seu lugar de direito.

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Pedidos e Essências – Sobre Talvez Nós.

Não peço nada além daquilo que você possa me dar. Não me atreveria a ousar em meus pedidos, não arriscaria te fazer sentir pressionado e querer escapar como areia no vento. Mas meus pedidos são simples, e eu faria o mesmo por você sem nem pensar duas vezes.

Só quero que você saiba que espero sua atenção, que aguardo pelo seu sorriso, que desejo o seu olhar sob mim, daqueles que me deixam sem graça, com o rosto corado, olhando para meus próprios pés, que me beije o beijo suave, e também aquele de tirar meu fôlego, que me deixe desnorteada, que me daça sorrir sem nenhum motivo para tal.

Só espero que você anseie em ver qualquer filme na televisão comigo, que a gente saia para comer qualquer porção por aí, tomar uma cerveja despretensiosa e rir das nossas próprias piadas idiotas. Vamos sair para aquele restaurante caro e pagar com os poucos trocados do salário no fim do mês. Vamos ficar em casa, eu faço aquele risoto que você gosta, depois a gente fica tomando vinho debaixo do edredom até ficarmos animados demais e deixarmos as taças para lá.

Peço que me compreenda quando eu falar algo sem pensar, e saiba que, no fundo, eu não te trocaria nem por uma viagem ao redor do mundo. Espero que não exista mentiras entre nós, e não porque é “errado”, mas porque tudo entre nós flui perfeitamente, sem nenhum segredo ou esforço, inclusive a nossa lealdade. Pois é, não se trata só de honestidade, existe uma lealdade que faz com que nossas vidas sejam congruentes uma à outra.

Por último, peço que me fale seus desejos, seus anseios, que me deixe realizá-los da maneira mais natural possível. Que a gente viva cada dia de cada vez e faça de cada noite a nossa última. Que a gente lembre daqui uns anos, seja 5, 10 ou 70, todas as coisas pelas quais passamos juntos, das nossas brigas idiotas, e também das mais sérias, e dê risada das vezes que você tentou me carregar no colo e não conseguiu, das minhas danças malucas e das suas caretas. Que a gente mude, mas continue essencialmente os mesmos, porque é pela nossa essência que sempre pedi.

E esse é o meu pecado: querer tudo o que posso te oferecer. Mesmo que você não faça ideia que esse é o meu desejo, mesmo que eu nem saiba, de fato, quem é você até agora, mas eu sei que você tá por aí, esperando pela realização dos meus pedidos também. Esperando para juntar sua essência à minha. Esperando por nós.

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Nada demais.

Fica mais. Ainda está cedo.. Nem sei se este relógio de ponteiros avançados está certo. Mas agora eu quero que você fique, e não se vá nunca mais. 

Eram esses os pensamentos que rodeavam a cabeça dela naquela hora em que viu ele pegando sua carteira em cima da mesa da sala, e andando até a porta, sem nem olhar para trás. Mas, para sua aflição, não sabendo os motivos, esses pensamentos não conseguiam ser traduzidos em palavras, e foram contidos por um sentimento de que não fazia ideia que poderia ter.

Ela não era nada demais – repetia em silêncio. Qual era a chance daquele cara querer ficar um pouco mais em sua companhia se ela nem mesmo tinha mais nenhuma ideia sobre qual assunto falar. Será que daqui a pouco começariam a falar sobre a novela, ou sobre o tempo, que nem nessas conversas de elevadores? Não sabia, mas de uma coisa tinha certeza: queria que ele ficasse mais um pouco, mesmo se fosse para que eles continuassem assistindo aquele filme da sessão corujão em silêncio. 

Nunca foi do tipo de gente que consegue esconder direito o que se passa em sua cabeça, mesmo que nem sempre soubesse como expressar tanta coisa em frases que fizessem sentido aos outros. Andou até a porta para passar a tranca e, enfim, voltar à sua vidinha sem graça de expectativas frustradas, mas se surpreendeu quando percebeu que ele ainda estava parado no batente, do lado de fora, junto à roseira, só que agora olhando para ela. 

-Que foi? Pensou que eu já tivesse ido? 

-É, pensei, você saiu meio corrido..

-Eu sei, sei lá. Pensei que já fosse tarde, e como você concordou resolvi ir mesmo.

-Não, é..eu sei, tá tarde sim, mas pensei que sei lá..

-Tem muitos “sei lá” nessa conversa, não é?

-Eu sei, eu sei. Só não sei te explicar o que quero dizer, porque não faço ideia do que é que eu quero dizer. Queria que as coisas tivessem sido diferentes, acho que é isso. Não sei se estou preparada para te ver ir embora assim.

-É, eu te entendo, um pouco. Também não faço ideia do que estou pensando nesse momento, mas alguma coisa me fez parar e voltar. Bem, vamos sentar um pouco aqui na escada? Acho que posso esperar mais um pouco, se for para a gente tentar entender o que está acontecendo por aqui.

Sem demais palavras, apenas acenou que sim com a cabeça e sentou no penúltimo degrau da pequena escada que separava sua porta e o imenso jardim, onde se via parado, ao final, o carro dele. Uma coisa era certa: ele quis ir embora, mas ele quis ficar também. Será que havia um motivo racional para isso? Achava que não. Nem mesmo ela entendia o porque queria dizer um turbilhão de coisas para ele. Nunca tinha sentido nada assim, até porque esse não era nem de longe o primeiro cara que ela tivesse tido alguma coisa (apesar de, em tese, os dois nunca tenham tido nada), mas dessa vez era diferente, se sentia diferente.

Os dois eram como água e óleo, mas no silêncio era que os dois se entendiam. Sempre foram bons ouvintes, e nunca bons falantes, mas havia muitas palavras contidas ali, e como ele mesmo havia dito, muitos “sei lá” que, no fundo, tinham muito significado. Mas era assim que as coisas funcionavam entre eles. Às vezes a gente precisa mesmo de um tempo para nos permitir a não pensar, de apenas reagir, e agir, e nos abster de razões, de motivos concretos e justificáveis.

Então, permitindo-se ser irracional pelo menos uma vez na vida, apenas olhou para ele. Não disse nada. Mas ele entendeu o recado. Levemente tocou em suas mãos e ali ficaram sentados, eles e o silêncio, testemunhas de tudo o que podia ou não acontecer, mas que não importava naquele momento, porque aquele momento era o único em que finalmente ela não se sentiu “nada demais”, porque realmente, para ele, ela era muito, muito mais do que ele pensou em encontrar. 

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Saudosismo de nós.

Saudades dos nossos momentos ainda não vividos, dos nossos olhos nos olhos confidenciando reciprocamente os segredos mais íntimos, das nossas mãos se encontrando debaixo do edredom enquanto passava um filme qualquer na televisão, dos nossos sorrisos se multiplicando mesmo que sem nenhum motivo concreto para que eles se alargassem tanto.

Nós dois, ali, vindos de caminhos tão diferentes, machucados por dentro e descrentes de finais felizes. Pois é, nunca esperamos que o nosso final fosse feliz, até porque nem sabíamos direito quando houve um começo entre nós. Esperávamos que a felicidade transcendesse a cada dia nas nossas feições sinceras e serenas quando estávamos juntos, nos nossos passos sincronizados e tão contrários aos caminhos de todas as outras pessoas.

Saudades dos dias frios em que você me preparava um chocolate quente e aparecia com esse café amargo para tomar enquanto conversávamos sobre aquele livro antigo que lemos algum dia no passado tão distante. Lembro de como te fazia rir quando sentia o cheiro daquela coberta guardada no armário, escondida ali há tantos verões e pronta, finalmente, para participar do nosso mundo e nos observar em silêncio. 

Engraçado como havíamos chegado ali, eu e você nos encontrando sem nenhum porquê, sem nenhuma explicação lógica, apenas o tempo certo na hora certa para nos acudir de tantas outras decepções já vividas. Você me trouxe esse sorriso aqui de volta, e fazia tempo que eu não sentia essa brisa leve no rosto, essa sensação de que tudo está acontecendo da exata maneira como deve acontecer. 

Tenho saudades, saudades de verdade do seu abraço quente em que eu me encaixava com nossos tamanhos ideais, dos nossos beijos tímidos e tantas outras vezes, descontrolados e incontroláveis, da sua pele macia em que eu passava os dedos lentamente para sentir pada centímetro possível de você, e da sua barba rala enroscando no meu cabelo, e nos fazendo, novamente, rir daquele jeito gostoso que só a gente sabia.

Tenho saudade, principalmente porque nada disso ainda aconteceu. Tenho saudades, porque te imaginei e te desejei todos os dias da minha vida, mas você sequer existe ou me descobriu. Mas estou aqui, saudosa, destes momento que não vivi, aguardando para que você venha, enfim, torná-los reais. 

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Valorizei-te, mas você não notou.

Valorizei-te, mas você não notou. Também, sei que seria difícil notar dentro deste mundo tão extenso de sentimentos que sempre nos compuseram. Justifico, desde já, minha necessidade em te demonstrar o quão bom era a felicidade, usando da minha própria alegria em te ver sorrir também. Pois é. Te fazer feliz me fazia feliz e me fez feliz por muito tempo, até perceber que a sua reciprocidade não era real. 

Quando estamos obcecados em encontrar a felicidade em um relacionamento, dificilmente percebemos os fatos logo de início. É preciso quebrar a cara. Olhar bem ao fundo e pensar “mas por que eu estou fazendo isso mesmo?”. Eramos felizes nesse ciclo de nós dois nos doando por você. Não é que eu quisesse estar acima dos seus objetivos, mas é que queria me sentir um objetivo também. Essa sensação de “causa ganha” não agrada e nunca agradou ninguém. É lógico que a segurança entre nós sempre importou, e muito, mas a partir do momento que me senti um troféu, ali parado na sua estante, sem ir à lugar algum, comecei a me incomodar, porque queria me sentir objeto de seu desejo novamente, aquele olhar em chamas desejando imensamente ganhar aquele jogo. 

Valorizei-te, mas você não notou. E tanto fiz por ter acreditado na gente até o último segundo. Te dei sinais, diretos, indiretos e de todas as maneiras de que precisava do valor recíproco ali entre nós. Precisava ter certeza de que você tinha planos pra gente, assim como eu também tinha. Mas você nunca me contou. E acabei ficando ali, como assunto arrastado por outras matérias. Se tal coisa der certo, eu faço x. Se a outra coisa der certo, eu faço y. E para mim, eu deveria estar inserida nas hipóteses de qualquer letra do alfabeto, e seus planos e meus planos seguirem os nossos. 

Cansei. E quando cansei você percebeu que a estante estava vazia. Mas sinto muito, com toda essa desvalorização aprendi que não adianta a gente entrar em um jogo sozinhos. Não adianta a gente querer montar uma história de um só personagem. Se teve por qualquer hora a certeza que queria este papel, deveria ter reivindicado-o a tempo da formação do elenco. Tão só me sentia naquele palco, procurando por informações e só obtendo respostas vagas de quem deixava sempre para depois.

E agora o depois chegou. E graças ao meu grande empenho, voltei toda essa minha valoração treinada à quem realmente se dedicou nessa história toda, minha alma.  Então, encoste a porta quando estiver indo embora, e por favor não olhe para trás. Espero nunca mais voltar a fazer encenação junto aos outros prêmios da sua estante. 

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Eu quero a sorte de um amor (em todas suas fases)

Hoje pela manhã me deparei com um texto sobre relacionamentos. O texto, em si, era muito bom, bem escrito, mas, na essência, me senti um peixe fora d’água por discordar veemente da sua ideia principal, de que o amor e a segurança não conseguiam caminhar juntos. Existem uma grande confusão quando se trata de amor e paixão. Alguns dizem que ambos sentimentos se assemelham, outros dizem que um é seguido do outro e não é possível existir concomitantemente um junto com o outro.

Mas a verdade é: não existe uma definição concreta do que é amor, e do que é paixão, de qual é melhor e qual é pior. E acima de tudo, a gente só consegue entender (porém, não necessariamente, explicar) qual a diferença entre ambos sentimentos com o passar do tempo, com o nosso próprio amadurecimento e experiências da vida.

Paixão é aquele fogo, aquele medinho nas coisas mais banais, aquelas dúvidas como “será que eles vai me achar bonita com essa roupa?”, “será que se eu falar isso ele vai me achar uma babaca?”, até naquela sensação de fogo por dentro, mais conhecida como as boas e velhas borboletas na barriga. É durante a paixão que a gente se conhece, se conecta. São aqueles dias, meses, ou até anos, em que existe aquela necessidade de conquista, em que existe até um receio de que aquela relação não vá para frente.

Já o amor, para mim, é aquela fase em que o sentimento está consolidado, em que existe confiança, companheirismo, sintonia. O amor existe quando sabemos que a pessoa pode estar rodeada por mil outras, e temos a certeza de que ela vai voltar para nós. Quando acordamos de péssimo humor, com a cara toda amarrotada e com o cabelo desgrenhado, no auge da TPM, e sabemos que o sentimento por nós não vai mudar, tampouco diminuir. O amor não exclui a paixão, ele só a amadurece, a torna confiante nela própria, em nós.

Porém, nem o amor, muito menos a paixão, estão garantidos na eternidade. Essa história de “dar certo com alguém” nunca me convenceu. Não entendo porque temos que aguardar a chegada da eternidade para que algo valha à pena, se temos todos os dias para aproveitar os bons momentos e criar boas lembranças que, estas sim, estarão sempre guardadas na memória.

O negócio, então, é aproveitar cada fase dos relacionamentos que nos envolvemos. Arder por dentro, se jogar de cara, sem medo, se mostrar totalmente, permitir-se se “despudorar”, aceitar a rotina que foi criada à dois, solucionar suas dúvidas, confiar, apaziguar, se entrelaçar, e, querer, como dizia Cazuza, “a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida”.

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Infinidade.

Se a felicidade fosse resumida, escolheria passar seus pequenos momentos construindo lembranças inesquecíveis ao seu lado.

Largaria mão das desculpas cotidianas para não correr atrás das minhas vontades, e concretizaria todos os meus desejos somados ao seu jeito, às suas vontades, à nossa maneira. Porque esse seu jeito me fez perceber que as minhas atitudes ficaram por muito tempo incompletas, esperando por preenchimento. E essa completude chegou, de maneira tímida, mas chegou, com nossas conversas intermináveis, nossas risadas, nosso entrelaço que virou nó, desses de marinheiro mesmo.

E, então, poderíamos viver, sem as preocupações do dia a dia, sem nos preocupar com as horas, com nosso dinheiro curto, com o meu jeito sentimental demais ou o seu jeito racional. Afinal, são destas diversidades que as grandes histórias são formadas, não é mesmo? E com a gente não poderia ser diferente, porque somos feitos de carne, osso, emoções, razões, dúvidas, verdades e carinho (muito carinho, aliás). E essa complexidade simples existente na nossa maneira que faz com que cada dia seja único, cada momento, importante, que valha a pena, sem jogos, sem sentimentos escondidos. Piegas? Nem um pouco se tratando de verdades.

E nossos minutos juntos, virariam horas, e as horas, dias, que não iríamos nunca que chegasse ao fim. Mas sinceramente, nós dois sabemos que nem todas as coisas são sempre rosas. Espinhos aparecem, e como aparecem. Mas daríamos um jeito, como de costume, de podar o que nos machucasse, de adaptar as feridas ao nosso jeito, para que soubéssemos que tudo o que vivemos até hoje nos abriu os olhos para que nos tornássemos o que somos agora.

Dizem que o amor é a solução para tudo e para todas as dificuldades em um relacionamento. Eu concordo em termos. O amor é um grande combustível para que a gente tenha coragem e vontade de caminhar juntos, mas o companheirismo e a verdade mútua é o que faz com que, nesta caminhada, estejamos lado a lado.

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Você.

Me apaixonei por você. Bem, essa não é nenhuma novidade. Eu que sempre fui desse tipo de pessoa cheia de sentimentos machucados e pés atrás, me deixei levar por exatamente aquilo que me conquistou desde a primeira vez que te vi, parado na porta da minha casa, com um sorriso aberto para mim: você.

Você, sem tirar nem por, mesmo com essa sua barba por fazer e cabelo desajeitado, me deu a chance de acreditar em relacionamentos novamente, e, por minha sorte, me mostrando a melhor maneira de se amar, de se sentir amado. Sintonia né? Essa sempre foi a base de tudo, desde que nos conhecemos, desde que nos falamos pela primeira vez. E aqui, deitada acolhida por seus braços, é onde me sinto segura para acreditar novamente de que nem todo relacionamento é feito por momentos de empolgação, de viver o que nunca tive oportunidade de viver, isso antes de conhecer você.

E felizmente, você me aceitou com toda minha bagagem de defeitos, com minhas manias, com meus choros sem motivo. E eu te aceitei com essa sua teimosia, sua despreocupação quando eu estou surtando, com sua confiança. Porque, afinal, qual seria o sentido de haver sintonia se não houvesse completude? E há, sempre existiu, e sempre esteve ali para quem quisesse ver.

E se eu te amar, você deixa? Você deixa, então, que eu continue sendo essa mesma menina mulher desengonçada de sempre? Você deixa que o tempo passe, passe e passe e nos traga milhares de experiências e gostos novos para nós dois? Essa coisa do tempo, essa coisa de que ele sempre tem que ser o vilão da história..você deixa a gente provar que o mundo está errado quanto a isso?

O tempo, às vezes, quer nos enganar, quer nos convencer de que as mudanças que acontecem com a chegada da rotina, dos desentendimentos (inevitáveis, porém, quase inocorrentes) é motivo bastante para que os pés se coloquem atrás novamente, mas no fundo, é você ali, você que me completou como nunca soube ser completa, você que me ouviu sempre que precisei falar, você que me segurou sempre que eu estava prestes a ter atitudes impensadas. Mas sempre foi você. E eu não mudaria nada, nem um minuto que fosse desse tempo que estivemos juntos, nada. Porque eu não quero que você mude, eu não quero mudar, eu não quero pisar em ovos com minhas palavras e suas reações, e não quero que nossa paciência se escoe facilmente, que viremos segundo plano, que a gente não seja mais sintonizados por nossa própria história.

Não, essa tal de sintonia não deixa, e ela tem que prevalecer, era o trato, e ainda é, sempre vai ser.

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Simples Pedidos

Por mais amores ilimitados, mais beijos roubados e mais você e eu debaixo do edredom assistindo um filme qualquer na televisão. Sem hora para levantar, sem pressa para viver, convictos de que aquele é o exato lugar no mundo todo que deveríamos estar.

Por mais abraços sinceros, mais olhos nos olhos e muito carinho recíproco. Que você vá a qualquer lugar me deixando a certeza de que irá voltar, porque não trocaria o café que te preparo depois do almoço por mais nada nesse mundo.

Por menos celulares entre nós, menos pudores, e mais amores, mais palavras sinceras e menos joguinhos. Ah, esses joguinhos… não sei quem inventou que eles eram necessários, mas fico feliz que a gente nunca tenha de fato acreditado nisso.

Por mais surpresas no meio da semana, mais risadas de coisas banais – daquelas que nos fazem rir até chorar. Também por menos dramas quando eu receber uma mensagem de uma pessoa qualquer. No fundo, sabemos que não precisamos pertencer um ao outro para não querermos ser de mais ninguém.

Por mais rotinas a dois – porque este é o sinal de que ainda estamos juntos. Por mais ciúmes moderado e menos ciúmes doentio. Por mais fins de semana com seus amigos, e também com os meus. Por mais planos de viagens daquelas que só se faz quando já estivermos bem de grana.

Por mais músicas nos nossos dias, e menos distância entre nossos abraços, e mais entrelaços entre nossos braços. Que a gente não precise estar juntos o tempo inteiro para sabermos que estamos sempre um com o outro.

Por dias, meses e anos e agoras, porque o agora é o exato momento que nos pertence, o exato momento que quero que guarde para sempre na sua memória.

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Não se aceita migalha de pão como pagamento.

Uma coisa é fato: hoje em dia está cada vez mais difícil não ser passado para trás. Não só em relacionamentos, mas também nas relações de amizade (ou “amizade”), no trabalho e em várias outras situações do nosso dia a dia.

É triste esta constatação, porque demonstra que a cada dia as pessoas estão cada vez mais pouco ligando para o que a outra sente ou pensa. Estamos cada vez menos nos importando se vamos iludir, mentir ou magoar os outros. E sabe qual o resultado disso? Auto estimas lá no chão.

Pois é, ao invés de ressentimentos tornarem as pessoas mais fortes, à procura daquele famoso “coisa melhor”, nós acabamos ficando conformados com o que temos na mão mesmo, com os amigos que não nos valorizam, com os amores que nos enganam, e, como em um efeito dominó, o esforço para melhorar vai por água abaixo em favor de facilidades e empurrões com a barriga.

Junta-se tudo isso e formamos então uma sociedade de pessoas de baixa auto estima, carentes de atenção, descrentes em relacionamentos e cansadas para encontram alguém que realmente se encaixe de verdade com suas ideias, amores, dia a dia. O próximo passo é entrar em relacionamentos furados e infelizes, que geram reclamações diárias quase que instantâneas, mas que, na balança, são mais convenientes do que as sextas feiras sozinhos vendo televisão ou do que a falta de companhia para ir ao cinema.

Não sei quando foi que as pessoas começaram a aceitar esmolas ao invés de relacionamentos concretos. Não sei quando foi que o “melhor isso do que nada” começou a ganhar espaço em coisas tão importantes como o nosso convívio diário uns com os outros. Mas de uma coisa eu sei: isso não está certo e precisa mudar. A começar por nós mesmos, a começar por nossa auto estima, nosso amor próprio. Se a gente não se valorizar, tenha certeza que ninguém mais no planeta fará isso por nós. E, cara, como é ruim se sentir um lixo. Todo mundo sabe exatamente como é se sentir assim pelo menos por uma vez. Imagina, então, tornar este sentimento diário, constante e normal na sua vida?

Ninguém merece viver de migalhas. De amizades que só são de verdade quando se tem interesse. De relacionamentos com um milhão de enganações e mentiras que a gente finge acreditar (ou que não admite para si mesmo que está sendo enganado). De diariamente saber que não pode confiar em ninguém, de não ter certeza se as palavras são verdadeiras. Ninguém merece não se valorizar a ponto de achar que  aquilo só já é bom o suficiente.

Não, minha gente, as coisas não são assim. Quem tem que ficar lá no topo do pedestal somos nós mesmos, e quem for bom o suficiente para ter o nosso convívio que escale montanhas para chegar até lá. Não somos nós que devemos descer. Entenda uma coisa: migalhas não servem para nada, não enchem nenhuma relação e se esvaziam no vento. Cada vez que fechamos os olhos para mentiras, enganações e desconsiderações, estamos aceitando pó, estamos nos jogando lá no chão e falando “beleza, pisa ai que eu aguento”. Aguentar, muita gente aguenta, mas por quanto tempo?

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